Cunene
Cunene é uma província no sul de Angola com uma área de 87.342km² e de 200 a 300 mil habitantes (estimativa). A sua capital é Ondjiva (antiga Vila Pereira d’Eça), dista de Luanda 1424km e do Lubango 415km.
A província compreende os municípios de Cahama, Cuanhama, Curoca, Cuvelai, Namacunde e Ombadja. É nesta província o Rio Cunene ganha o seu nome.
A população da província é na sua grande maioria constituída por agro-pastores, ou seja, grupos étnicos que vivem essencialmente do seu gado bovino, mas complementarmente por uma (limitada) agricultura de subsistência. Em virtude da escassez do pasto, as manadas são criadas e mantidas num regime de transumância que implica migrações regulares. [1]
O grosso da população faz parte de diferentes grupos do povo Ovambo, entre os quais os Kwanyama (Cuanhama) se destacam pelo seu peso demográfico. Pequenas minorias da população pertencem a diferentes outras etnias. Os Hinga são considerados como inserindo-se na categoria Nyaneka-Nkhumbi e têm um modo de vida semelhante ao dos Ovambo. Grupos dispersos de Chokwe distinguem-se pelo facto de serem exclusivamente agricultores, e grupos residuais de Khoisan continuam a sobreviver pela caça e recoleção. Com a excepção destes últimos, todas as etnias são bantu. [2]
Ondjiva, a única cidade da província, está a sair lentamente de um longo período de estagnação. A sua actividade concentra-se nos sectores do comércio e dos serviços. Ela é desde os tempos coloniais sede de uma diocese católica. Desde 2009 é também sede de um pólo da Universidade Mandume de Lubango.
Na província existe um parque nacional que, em princípio, seria de interesse turístico, mas que até hoje pouco serve para este objectivo, devido às perturbações pós-coloniais.
História
Como em toda a Angola, a população original da província era constituída por Khoisan (em linguagem corrente muitas vezes chamados “bosquímanos”) cujo espaço foi progressivamente ocupado por povos bantu, no decorrer de uma migração que alcançou a região provavelmente entre os séculos XVI e XVII. Devido às suas condições geográficas e ecológicas, esta região nunca chegou a ser densamente povoada. Os Kwanyama tiveram, porém, no século XVIII uma “massa crítica” suficiente para constituir uma unidade política (um “reino” na terminologia colonial) com bastante estabilidade.
No século XIX, no quadro da “corrida europeia para África”, as áreas ao sul e norte do rio Cunene suscitaram o interesse não apenas de Portugal, mas também da Inglaterra e da Alemanha. Esta última obteve na Conferência de Berlim o território da Namíbia de hoje, que a norte tem como limite o rio Cunene. Portugal, na altura ainda com pouca presença na região, apressou-se a conquistar a área a norte do rio, conseguindo o seu objectivo só em meados dos anos 1920, depois de uma acirrada resistência da parte dos Kwanyama. [3]
O facto de o rio Cunene tornar-se assim uma fronteira entre duas colónias pertencentes a duas potências coloniais diferentes não impediu a população Ovambo, dividida por esta linha, de continuar a manter laços estreitos com os seus congéneres da respectiva outra margem. Esta ligação se manteve até hoje, com intensidade variável.
Os habitantes da província envolveram-se relativamente pouco na luta pela independência de Angola, mas os Kwanyama conseguiram na fase final da ocupação colonial um empenho algo maior de Portugal no desenvolvimento da sua área, p.ex. pela criação de mais escolas. Desde a independência, a população da província encontra-se num processo de integração social e política que varia bastante de grupo para grupo.
Para os Ovambo existe desde há os anos 1960 um contencioso primeiro com o Estado colonial, depois com o Estado angolano independente, pelo facto de ambos terem permitido a apropriação de extensos terrenos, primeiro por colonos brancos, a seguir por parte de políticos ou militares de alta patente – dado que estes estabelecem cercas de arame em volta das suas possessões, impossibilitando deste modo a transumância, vital para povos agro-pastores. Os greves problemas sociais, económicos e ecológicos daí resultantes são em princípio conhecidos [4], mas até hoje pouco tidos em consideração pelas autoridades políticas.